Segurança dos motociclistas: uma urgência
25/08/2017
Por Ildo
Mário Szinvelksi*
Como alternativa a um transporte público caro e
deficiente, para driblar o trânsito caótico, ganhar tempo no trânsito ou como
opção de trabalho, as motos vem ganhando cada vez mais espaço.
A frota de duas rodas cresceu 159% no Brasil nos
últimos dez anos. Em alguns Estados, o total de motos ultrapassa o número de
habilitados na categoria A.
Maior que o crescimento da frota de motos, somente
o crescimento da acidentalidade com motociclistas. Apesar da grande
vulnerabilidade, esse veículo rápido, econômico, relativamente barato, veio pra
ficar.
É urgente então pensarmos o que será feito para
estancar essa sangria (literalmente), pois além dos custos imensuráveis da
perda para as famílias e das sequelas permanentes, os custos econômicos e
sociais já foram mensurados e seus impactos são sentidos por todos nós.
Problemas complexos como a acidentalidade exigem
soluções transversais. Não há uma só ação que vá resolver o problema. Começando
pelas atribuições do Detran/RS: a formação precisa ser qualificada e a educação
para o trânsito intensificada.
O condutor deve ser treinado e avaliado na
realidade vivencial. A tecnologia está aí para ajudar. Simuladores de direção
permitem um primeiro contato com a direção do veículo sem o risco do trânsito.
Antes de receber a CNH, deve-se garantir que o
condutor tenha as habilidades mínimas para se manter vivo nas ruas, como usar
adequadamente 70% do freio dianteiro, por exemplo. O motociclista deve ser
lembrado frequentemente sobre comportamentos imprudentes e o risco da
negligência pelo desuso dos equipamentos (capacete, roupas de segurança, botas
e luvas). A formação deve ser continuada, com cursos de qualificação para os já
habilitados.
O sistema viário é corresponsável pelas mortes no
trânsito. Sinalização ineficiente, pavimento inadequado, pista escorregadia,
falta de planejamento. Gestores devem buscar intervenções que minimizem os
riscos: utilizar materiais antiderrapantes, tapar buracos, incluir faixas
adicionais para veículos lentos e evitar tachões e prismas de concreto.
A qualidade do transporte público também deve
entrar em pauta quando o assunto é o crescimento exponencial das motocicletas
nas cidades. Muitos dos novos motociclistas viram na moto uma alternativa a um
transporte caro, ineficiente e desconfortável.
Não só o estado de conservação dos ônibus, trens e
lotações deve ser fiscalizado, mas também as vias devem ter faixas exclusivas
ou prioritárias, garantindo certa vantagem para quem opta pelo coletivo ao
invés do transporte individual. O custo do transporte é um ponto chave, que
precisa ser equacionado.
Não podemos falar em segurança de motociclistas sem
falar dos profissionais. Motofretistas e mototaxistas, embora se envolvam menos
em acidentes, estão sempre expostos. A legislação e os órgãos de fiscalização
devem protegê-los.
É preciso fiscalizar o cumprimento da Lei Federal
12.009/09, que regulamentou a profissão, exigindo do trabalhador requisitos
mínimos. O empregador também deve ser fiscalizado para que não faça exigências
irreais, que forcem o motociclista a exceder a velocidade e cometer outras
imprudências.
Deve-se também fazer o controle da importação de
motocicletas de baixa qualidade sujeitas a pane elétrica, quebra de quadro e
chassi, sem disponibilidade de peças de reposição, baixa qualidade do farol e
pneus inadequados para pistas molhadas.
A indústria, que sempre evitou discutir a
insegurança e a invisibilidade dos motociclistas buscando afastar-se da imagem
negativa diante dos custos sociais absurdos dos acidentes de trânsito, também
precisa ser chamada à sua responsabilidade.
Por fim, o mais importante, sem o que nenhuma das
medidas citadas será eficaz: o cuidado dos demais motoristas com os usuários
mais vulneráveis. O Código de Trânsito Brasileiro normatizou uma medida de bom
senso, que deveria servir pra quase tudo na vida: os maiores cuidam dos
menores.
O motorista de carro ou veículo pesado cuida do
motociclista, empregadores cuidam de trabalhadores, a indústria cuida do
consumidor e os governos cuidam de seus cidadãos.
*Ildo
Mário Szinvelksi é diretor-geral do Detran/RS
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