A crise política e o martírio da indústria da construção
Artigo de Alonso Mazini Soler, doutor em Engenharia de Produção e professor do Insper
Ainda sob o efeito da ressaca do recente “tsunami” político que
abalou o País com as delações da JBS, cabe fazer um rescaldo imediato e
avaliar os impactos específicos provocados na atividade econômica da
indústria da construção que representa, atualmente, o segundo maior
setor econômico do Brasil, logo atrás da agroindústria, com 16% do PIB e
3,5 milhões de empregos, ou 6% do total.
A crise política que se estende e agudiza, sem trégua, ao longo dos
últimos anos, tem impactado significativamente os resultados desse
segmento que se caracteriza, principalmente, por ser altamente
dependente de grandes investimentos.
Sem segurança institucional –
principal efeito perceptível da crise política –, sem perspectivas de
crescimento econômico sustentável e sem a oferta de financiamentos
adequados, elevam-se os riscos dos investidores e inviabilizam-se os
projetos de construção, paralisando o segmento e impactando
negativamente seus potenciais resultados econômicos e sociais.
Nesse contexto, o mais novo acontecimento político divulgado,
estopim de uma crise institucional sem paralelo na história do País,
promove um desserviço significativo à retomada das grandes obras de
infraestrutura e uma nova carga de desalento à massa de desempregados
do setor da construção. Investidores privados – nacionais e
internacionais – contabilizam seus riscos e se retraem ou transferem
seus capitais para outros locais com maior previsibilidade e segurança
de retorno.
Instâncias da administração pública direta não conseguem
investir em obras devido ao estado caótico de suas contas que apontam
para a insolvência generalizada. Estatais se retraem com receio de
tornarem-se alvos de novos capítulos de operações criminais. Bancos
privados deixam de ofertar crédito sem o aval de bancos públicos.
Bancos de fomento se mantêm paralisados em suas operações de crédito
para a construção, aguardando uma solução de governança que lhes
permitam retomar as operações em conjunto com as empreiteiras que se
encontram expostas no centro da crise. Seguradoras não dispõem de obras
para garantir – mas mesmo que as tivessem, devido aos riscos que
representam, cobrariam prêmios incompatíveis com a viabilidade dos
projetos.
Enfim, enquanto não houver uma solução ou um encaminhamento bem
aceito pela sociedade para a crise política e institucional, não haverá
investimentos disponíveis e não haverá a retomada da indústria da
construção, reverberando negativamente o seu martírio no conjunto da
economia.
Que se encontre uma solução para Brasília, rápida e
contundente, para que o setor da construção volte a representar uma
força econômica de sustentação do Brasil.
FONTE:https://www.aecweb.com.br/cont/a/a-crise-politica-e-o-martirio-da-industria-da-construcao_15810
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