sexta-feira, 24 de julho de 2015

Remédio amargo ou letal? | Construção Mercado

Remédio amargo ou letal? | Construção Mercado

Remédio amargo ou letal?

Sacrifícios do ajuste fiscal visam recuperar a força e a credibilidade da economia brasileira, mas podem comprometer setores estratégicos, como a indústria da construção civil

Da Redação
17/Julho/2015


Poucos são os empresários brasileiros capazes de questionar a necessidade do ajuste fiscal e do reequilíbrio das contas públicas no Brasil. Não se trata, portanto, aqui de discutir a premência do remédio, mas sim a dosagem e os efeitos colaterais sobre uma economia fragilizada. 
A indústria da construção civil sofre para se readaptar a uma realidade que, há menos de uma década, fazia parte da rotina das empresas: falta de crédito, preocupação geral com desemprego, renda decrescente, desconfiança dos investidores nacionais e estrangeiros e a falta de recursos públicos para investimentos em infraestrutura.
A diferença do momento atual para as velhas "décadas perdidas" do setor consiste na abrangência da crise. A indústria da construção se subdivide em vários segmentos de atuação: infraestrutura e obras públicas, parcerias público-privadas, habitação popular, mercado imobiliário (real estate), obras industriais, logísticas etc. 
Como bem apontou o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, em entrevista concedida à equipe da revista Construção Mercado, "nunca tinha visto todas as áreas ruins ao mesmo tempo, como está acontecendo agora."
A análise de Ferraz Neto nos oferece a dimensão de uma crise, cujas consequências ainda não conseguimos mapear. Os efeitos imediatos são nítidos: desemprego setorial, paralisação de obras, redução de lançamentos, engavetamento de projetos e adiamento de investimentos. Os danos a médio e longo prazo, entretanto, são imprevisíveis e dependem da duração da contração econômica.

Perderemos, mais uma vez, gerações inteiras de engenheiros civis e arquitetos para outros setores da economia? 

As empresas de projeto e consultoria serão novamente esvaziadas, deixando talentos e know-how por falta de novos contratos? 

A industrialização na construção civil será subjugada em favor da mão-de-obra desqualificada? 

Pautas fundamentais para o futuro do setor, como a busca da produtividade, a sustentabilidade (ecoeficiência), a Norma de Desempenho (NBR 15.575) e o BIM (Building Information Modeling), perderão espaço?

Difícil responder, com exatidão, às questões apontadas. O que resta ao setor é defender o papel estratégico de uma indústria propulsora de investimentos e empregos. 
Ao mesmo tempo, no âmbito das empresas, concentrar esforços em gestão, inovação e soluções alternativas para encontrar novas oportunidades que, mesmo escassas, aparecem em tempos de recessão. 
Permanecer parados, aguardando a dose e a duração dos sacrifícios impostos pelo governo federal, não vai ajudar em nada. Pelo contrário, fará com que o remédio, ao invés de amargo, seja letal.
Eric Cozza
Diretor Geral da Editora PINI

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